sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

falam os corpos

(René Magritte)


falam os corpos
enigma de babel
fogueira do silêncio
- os corpos -
equívocos mantos
fugidios
íman traição
do frio sedento



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

o natal em casa das tias velhas

(René Magritte)



o natal em casa das tias velhas
os primos as primas os pais
a avó as histórias os doces
ó menino Jesus, vê lá, vê lá
que prendas nos trazes 
na hora do natal

eram estranhos dias rubros de mistério
em casa à braseira carinhos e tréguas
o tempo corria, curtos os momentos
todos juntos juntos instantes de febre

morreram as tias e a casa velha
e os sapatinhos e a chaminé
morreu a avó e o primo cresceu
e também morreu
menino Jesus, que vens no natal
que saudades trazes dentro do bornal




domingo, 26 de dezembro de 2010

a natureza está nua, tão nua


(Antonio Cazorla)




a natureza está nua, tão nua
e nua, eu estou perante ela
o vento, a chuva, o sol
a água do mar, a sensação do precipício
a passagem das nuvens, o azul do céu
a luz branca do sol voando pelas nuvens cinzentas
as nuvens de chuva, a luz de tempestade
o rio de chumbo, a neve
não, não são metáforas, não
à merda a metáfora e a literatura
é sensual, é erótico
este encanto tenso
pela natureza



 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

pinceladas de Natal





passa gente voa gente
perfumada de Natal
traz canela nos cabelos
no sangue traz vinho quente

estão mendigos nos passeios
velhos jovens aleijados
decepados do Natal

é Inverno
chove e gela
nas ruas da capital

passa gente voa gente
perfumada de Natal

domingo, 19 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

o cão do sem-abrigo


(Alberto Giacometti)


amarelo e frio
o cão do sem-abrigo
espera paciente
a hora do sono

passa gente quente
ecoando dentro
cânticos de natal

gente invade a rua
o deserto a noite
o homem os cães
o palco ao luar
o cenário artificial
do quarto de dormir

o frio a noite
a cidade iluminada
os olhos do cão
e o sem-abrigo
esperam pacientes
que os vultos se vão
que desapareçam
quentes confortáveis
e levem a música
os cânticos de natal
a festa o palácio

deixem livre a rua
e a hora do sono

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

não desistirei





não desistirei
do meu desejo

por ele
eu queria chegar ao âmago
tocar-me a alma

despido
da folhagem postiça
é forte e puro
como o poder de um astro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

corro no leito da vida




corro no leito da vida
com a vida

faço só o que ela quer

eu, o que sou?
sentidos para escutá-la
e um corpo
para os gestos
que ela ordene

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

caminho




caminho na rua deserta
cobre-me a capa
do movimento
do acotovelamento
da pressa do andar
da indiferença dos automóveis
do roncar dos aviões
das conversas desfeitas
dos cafés
das esquinas