sábado, 22 de maio de 2010

esqueço

(Amadeu de Sousa Cardoso)



 
esqueço
o que o meu olhar quer
estender os braços preguiçosos sobre ti
tocar as tuas palavras novas
perscrutar curioso o lugar
das tuas mãos, dos teus cabelos

esqueço
no instante festivo
a festa do instante

e uma névoa espessa envolve
o feitio dos teus objectos
e as cores e a ternura
das tuas coisas


segunda-feira, 10 de maio de 2010

brincadeira do destino

(Hans Hofman)



 

quando o destino brinca
de tão cruel maneira
não sei se escolha a morte por caminho
ou se entre na estouvada brincadeira

mas se aceito o jogo do destino
não se perdoa o choro nem a queixa
que o destino não é cego menino
nem é certo o deserto em que nos deixa




terça-feira, 4 de maio de 2010

há dias em que se morre

(Jackson Pollock)


 
há dias em que se morre
no pulso o relógio morre
não mais a vida de outrora
não mais o calor dos dias calmos
dos afagos
dos jantares quentes sobre a mesa
não mais
o perfume selvagem das manhãs claras
as confiadas palavras
de amor

há dias em que se morre
e depois
o fantasma passa
pelas ruas pelas casas
passa
por lugares por cidades
corre pelas estradas
não pára não quer olhar
passa passa