domingo, 1 de novembro de 2009

Ode à constipação

(Pablo Picasso)




lânguida e morna a constipação
eleva os mortais um pouco acima
da banal superfície
e imundície das ruas

ousados germes que nos distanciam
e aliviam da rotina ofegante
febril anestesia que nos enuvia
e desatrofia para voos rasantes

ah, reservada constipação
bebo da taça enebriante
do teu líquido etílico
e cambaleante me afasto
do templo de dioniso

escorrem-me as lágrimas
pelo rosto quente
oh, constipação borbulhante
sinto o pesar dos ossos frontais
e a mucosa das narinas
ouço fervilhar

louvada constipação,
embala-me no sono vago
que o calor da lã aquece
o frio arrepio da pele

Sem comentários:

Enviar um comentário